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A ênfase no outro e o ensino de Filosofia

por Elnora Gondim y Osvaldino Marra

Este artigo tem como objetivo pensar a relação entre a questão sobre a necessidade de se repensar o homem e a ética, a filosofia de Levinas e a atual situação que o ensino filosófico se encontra ao nível do estado do Piauí buscando soluções práticas para o problema da violência em Teresina/PI. Aqui é interessante apontar que a capital piauiense foi citada ao nível de amostragem, pois o problema pertinente à violência entre os jovens é algo universal e que, portanto, necessita de medidas que ajudem a solucioná-lo.

Introdução

No presente trabalho, objetivamos discutir como a filosofia pode colaborar na prática de [ou não se colocar como algo uno para trabalhar] questões singulares. Se, a partir do ensino filosófico, podemos responder, fornecendo mecanismos práticos, ao questionamento que diz: não será necessário repensar o homem e a ética? Neste sentido, tentaremos analisar e encontrar plausíveis soluções para as questões acima mencionadas, mostrando, panoramicamente, a filosofia de Emmanuel Lévinas[1] e como, amostragem em relação ao problema da violência, o caso das gangues de bairros em Teresina/PI; isto tudo tomando como paradigma de solução a inclusão de disciplinas filosóficas nas escolas estaduais e municipais do Piauí e sua relação com uma metodologia levinasiana.

Assim sendo, buscando relacionar a filosofia de Lévinas aos currículos escolares piauienses, intentamos fornecer uma chave para a reflexão para uma provável solução para a socialização da saúde mental e social relacionada aos jovens de Teresina/PI, tomando como referência os problemas das gangues nos bairros da capital piauiense.

Teresina/Pi/Brasil e as gangues de Bairro

Conforme o supracitado, constatamos que Teresina/PI/Brasil, até bem pouco tempo, era uma cidade tranqüila e calma; no entanto este “clima pacífico” mudou vertiginosamente. Podemos verificar, através dos meios de comunicação local, é um aumento significativo da violência ocasionado pela formação de gangues de bairros intituladas de “mangueirão”, “esporão de arraia”, “capelinha”, “monte castelo” dentre outras. Observamos, nos bairros, muitos jovens e pouca ocupação: é comum, à tarde, ao passarmos em tais lugares, encontrarmos adolescentes em bares, lanchonetes e calçadas. Acreditamos, assim, que há uma relação direta entre a baixa auto-estima, o crescimento populacional, o apelo ao consumo, o ócio improdutivo da juventude e a violência. Há bem pouco tempo, quando se falava em bandidos, assaltos e coisas do tipo, era comum pensar em pessoas maiores. Crianças e adolescentes que praticavam crimes eram incomuns. O crime era perpetrado por adultos.

Atualmente, o perfil[2] tem mudado; bandidos são, em sua grande maioria, menores. A prova disto é que os componentes das gangues acima citadas são, geralmente, jovens na faixa etária entre 13 a 20 anos de idade. Estes têm como características: possuírem armas, usarem drogas como o craque, vestirem roupas esportivas e caras, freqüentarem danceterias e bailes de reggae. Geralmente, são filhos de pessoas de classe média baixa, que têm razoáveis condições de moradia e sobrevivência como: possuírem televisão, som, a casa tem banheiro, mais de um quarto e não passam fome. Outra característica observada: tornam-se pais e mães muito cedo e suas companheiras e companheiros são componentes, também, da gangue. Afora isto, se podem notar outros aspectos: estes grupos formam um corpo, uma sociedade marginal, com certa organização, tendo normas próprias que não podem ser burladas e, se o forem, eles próprios julgam os componentes burladores, onde estes são considerados como traidores das leis do grupo; isto, comumente, resulta em morte de forma extremamente violenta como recado para os demais membros. Outro fator agravante, é que há rivalidade entre os grupos; eles demarcam territórios, onde um não pode interceder no espaço territorial do outro e, se isto ocorre, há uma luta infindável entre os mesmos, gerando extermínios de jovens que há pouco deixaram a primeira infância.

Com isto constatado, através das infindas matérias jornalísticas locais, imaginamos uma ação educacional que proporcionasse a neutralização de tais fatos sem descaracterizar as particularidades inerentes aos grupos, pois, se não for desta forma, de nada adiantaria a presente proposta, porquanto notamos que os componentes de tais agremiações são fiéis a determinadas posturas e gostos como a musicalidade, vocabulários etc. Pensamos, inicialmente, em algo como uma instrumentalização metodológica similar ao programa saúde da família. Promovendo uma efetiva assistência, a prevenção de doenças sociais e a reabilitação, acreditamos que a saída é fornecer aos jovens ociosos, além de uma ocupação e profissão, a resolução de um problema básico que é fator ocasionador da crescente de violência no estado do Piauí: a baixa auto-estima que condiciona as pessoas a uma falta de perspectiva maior em relação às suas vidas fazendo com que eles internalizem um chavão comum que diz: “filho de peixe, peixinho é”. Ou seja, homens e mulheres que convivem com pais que não tiveram crescimentos qualitativos e quantitativos durante toda uma existência, há uma tendência de não acreditarem na possibilidade de um futuro melhor em relação ao que seus pais tiveram, pois se o desenvolvimento e o progresso familiar são inexistentes, o que fazer? Estudar pode demorar muito tempo para se obter as melhorias diárias – e este fato é um aspecto que é levado em consideração por essas pessoas.

Outro fator agravante reside no fato de que o Piauí, em relação aos outros estados brasileiros, sempre esteve em desvantagem em virtude do PIB. Fato que, provavelmente, ocasiona um total descrédito do povo em se tratando de mudanças políticas públicas. Esse sentimento reflete em suas formas de abordagens quanto às perspectivas de vida.

Portanto, com a exposição dos fatos elencados acima, constatamos que, já de muito tempo, a fome não é o problema urbano central ocasionador da violência, mas, sim, a baixa auto-estima que, por sua vez, pode gerar a falta de perspectiva, a expectativa em um futuro melhor e a falta de sensibilidade em se tratando do outro.

Perguntamos: se há um crescimento dessas agremiações, gerando mais violência, que resulta na morte de jovens, sejam de gangues ou não, tendo em vista que o lazer preferido pelos jovens teresinenses se concentra em danceterias, churrascarias, bares que funcionam à noite, ficando os que não são envolvidos em gangues vulneráveis aos assaltos, à violência, sendo assim, quais serão as medidas que poderão ajudar a solucionar tal situação? Sugerimos, então, que seja aplicada nas escolas metodologias que enfatizem a elevação da auto-estima e do apreço ao outro , porquanto mecanismos para a elevação da auto-estima permitem a cada um apreciar o outro com justeza e despertam os jovens para olhar o outro e a si mesmo ; para tanto, nada melhor que buscar elementos na filosofia de Lévinas, pois a baixa auto-estima, no Piauí, gera déficit de cidadania e violência.

2. Lévinas

2.1. Visão panorâmica

A filosofia de Lévinas pode ser definida como aquela que fornece o primado do Outro sobre o mesmo. Desta maneira, há uma relação ética entre subjetividades diferentes numa sociedade movida por Desejos e pela idéia de Infinito. Isto tem como objetivo alcançar um autêntico sentido do humano dentro do âmbito da consciência moral.

Lévinas procura transcender as aparências dos atos vividos. Para tanto, procede com uma busca fenomenológica, partindo de descrições concretas e desvelantes da relação do eu com o outro e inclusive da aparição original do rosto que nos interpela. Neste sentido, o outro vai se manifestando como revelação, com uma significância que vem do exterior. A subjetividade será, deste modo, despertada pelo outro como outro e, assim, ela será a própria humanidade que sofre a ação do Desejo instigado pelo Outro. Lévinas busca algo que signifique por si mesmo como determinação própria da auteridade absoluta, como vamos constatar na passagem seguinte: “L'autre ne serait pas I'ndéfini par manque ou absence de contexte, mais signification “kat'auto”, autoréférentialité pure, expression de soi.”[3]

É a partir da intersubjetividade transcendental que é possível despertar relações sociais. Porém, esta idéia de transcendentalidade implica a de sentido: “L'extériorité de ce quelque chose... est commandée par l'intériorité du sens. Et cette dialectique d'interiorité détermine la notion même de l'esprit.”[4] Isto significa dizer que, fazer uma unidade através da multiplicidade, é formar um sentido, onde este é um retorno ao mesmo.

Esta doação de sentido não só se estabelece no plano gnosiológico. Lévinas supera tudo isto com a noção de intersubjetividade, pois o outro é algo que se manifesta, é exterioridade, onde não é o contexto que garante o sentido.

Neste âmbito, a definição de intencionalidade tem um papel significativo, ou seja, ela é a ação do viver ético no sentido de aceitar e entender a interdição aberta pelo Desejo. Ela é também o acolhimento de visitação do outro como ele é.

Desta maneira, Lévinas rompe com a estrutura noese-noemática da intencionalidade e ela passa a ser algo empírico-ético, a-teorético e transcendente.

Neste sentido, Levinas interpreta o “il y a”, isto é, a condição humana em seu momento impessoal do haver. Ele é uma espécie de existir anônimo. Sair dele é sair do não-sentido. Como isto é possível? Para sair do “il y a” se faz necessário o eu ser um ser-para-o-outro. Somente desta maneira o eu emerge da condição do “il y a”.

Ser-para-o-outro significa responsabilidade ética por ele. Então, a transcendência do Eu ao Outro ocorre pela abertura à palavra do outro que emerge em meu mundo como um rosto. O outro se revela outro em seu rosto, mas manifesta ser infinitamente Outro pela sua palavra. A linguagem, assim, é definida: “não é mera experiência, nem um meio de onhecimento de outrem, mas o lugar do Reencontro com o Outro, com o estranho e desconhecido do Outro.”[5]

O Eu, porém, nunca conseguirá interpretar o sentido da palavra em sua integridade, pois o Outro e a sua palavra não podem ser reduzidos a nenhum saber que o queira reduzir ontologicamente. Ao contrário, a diferença é a condição mesma do rosto que interpela. Nesse sentido, a relação face-a-face é anterior à consciência, pois o ser humano só sai de si mesmo a partir do Desejo e da necessidade.

A necessidade ou o Desejo expressam “o primeiro movimento do Mesmo (...) e também uma dependência frente ao Outro...”[6]

O Desejo move o Eu e o Outro ao face-a-face que decorre em uma relação interpessoal de responsabilidade aberta ao infinito.

A responsabilidade pelo Outro é uma substituição do Eu pelo Outro – uma estrutura fundamental da subjetividade. Desta maneira, ao emergir do rosto do Outro em meu mundo, o Eu é responsável por ele.

Neste sentido, Lévinas pensa o Outro não como algo que só vai suscitar a tolerânica do Eu, mas como alguém que nos surpreende, nos seduz. Ele é uma absoluta alteridade que me interpela a ouvi-lo e com quem posso falar. Nele, o essencial é uma alteridade excepcional a toda outra alteridade, portanto não é a categoria da diferença o que constitui o essencial da ética levinasiana, mas a categoria do excepcional. Há uma secreta identidade no Outro que é aquilo que permanece não revelado, oculto e que, portanto, faz com que ele seja interpretado de outra maneira.

Desta forma, Lévinas afirma que a ética tem o nome de metafísica, porque se refere à transcendência dos outros e isto é que o leva à idéia do infinito. O infinito é próprio do ser transcendente, o infinito não é o absoluto que dissolve a alteridade, mas um horizonte inexaurível que não pode ser reduzido à totalidade dissolvente: o infinito não é um objeto.

Na experiência ética, o face-a-face se dá pelo desejo bom e generoso, desde que deseje. Aqui o homem é entregue à liberdade. Porém, esta liberdade do sujeito encerra uma idéia de responsabilidade.

3. Repensar o Homen e a ética

Como complementação da filosofia de Levinas, seria interessante questionar: Não será necessário repensar o homem e a ética?, Assim sendo,

os códigos morais articulados em torno da relação homem-natureza e homem-cultura (...) não conseguem argumentos fundados que possam servir de parâmetros iluminador e norteador diante dos novos problemas que o homem enfrenta com o avanço das ciências.[7]

Com esta afirmação, nós constatamos que a única maneira do homem conseguir sua real libertação é através de um repensar sobre o que seria melhor para se viver em sociedade. Porém, isto encerra uma teia complexa de discussões. Para isto, nós teríamos que repensar termos como: o que é melhor, o que é o homem, o que é a sociedade, o que são leis, o que é a felicidade e, enfim, o que é a ética.

Quanto à razão:

trata-se, então, de perguntar se o eu racional cúmplice de si é capaz de propor e realizar uma ética que o ajude a transcender os determinismos naturais e os condicionamentos psíquico-sociais que o mantêm alienado e preso a esquemas que o libertam.[8]

Então, o que fazer? Parece que nós estamos envoltos em um paradoxo de impossível solução. “Parece que a humanidade, com raras exceções, não conseguiu compreender a grandeza senão na forma de dominação...”[9]

Desta maneira, nós percebemos que ser importante é sinônimo de melhor e que, sendo assim, isto tudo leva a uma decorrência fundamental que é a dominação. Neste sentido, o que domina é o melhor. Aqui cabe assim refletirmos sobre o significado do que vem a ser “o melhor”. Será se o domínio de alguém por alguém é algo essencialmente bom nas relações intersubjetivas?

E Pivatto afirma:

a grandeza pode ter outra inspiração, que nada tem a ver com dominação ou tirania; basta tomar contato com os Evangelhos, onde se revela nova ordem de valores e de relações cuja novidade e cujo alcance talvez mal começamos a compreender (...) Será isto uma utopia?[10]

Será se pensar em homens mais autênticos, buscando o seu real sentido no mundo da vida, respeitando o outro, é ser ingênuo? Será se acreditar em uma sociedade mais justa e mais harmônica é estar fora do contexto? Será se crê no amor eterno é pensar o impossível? Estas e outras perguntas, em realidade, não deveriam ser feitas. O normal, o natural seria vivê-las. Porém, na atual conjuntura, elas parecem improváveis.

Dentro deste contexto, parece razoável afirmar que:

o humano não pode surgir senão de uma nova polaridade, a partir de um novo horizonte (...), o novo horizonte é abertura ao infinito interior, é uma transcendência para dentro.[11]

Isto requer:

uma transcendência encarnada na imanência. Para tanto, importa também uma revisão da compreensão que o homem faz de si mesmo e das suas condições. Cada ser humano é chamado a recolocar não só a questão – quem sou eu -, mas sobretudo a lançar o desafio: quem eu quero ser, o que vou fazer de mim mesmo.[12]

Logo, é a partir de uma nova postura, que nós poderemos pensar em uma nova ética e uma nova forma de sociedade.

4. Questão relacionada ao ensino de Filosofia

Em se tratando de uma nova postura diante a sociedade, cumpre salientar a questão da legitimação e implantação do ensino de filosofia no Piauí e no Brasil.

4.1- Lei sobre a obrigatoriedade do ensino de Filosofia

Inicialmente, nós gostaríamos de fazer um esboço histórico sobre alguns aspectos relacionados à implantação do ensino de Filosofia.

4.1.1- Breve histórico

Os movimentos existentes em relação à implantação do ensino de Filosofia não são recentes, nós temos notícias deles desde o início da década de 80 quando ocorreu, por ex., o I ENEFIL (Encontro Nacional dos Estudantes de Filosofia) e que nele um dos momentos mais importantes foi à discussão deste citado tema.

Com a aprovação da Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (L.D.B.), lei N° 3.178/97, os conteúdos filosóficos foram considerados obrigatórios no ensino médio. Porém, vale aqui ressaltar que na citada lei não se fala na disciplina Filosofia, mas, sim de conteúdos filosóficos. No entanto, no dia 11/06/2006, o Parecer 38/2006 do Conselho Nacional de Educação (CNE) torna obrigatório o ensino de filosofia e sociologia no ensino médio de todas as escolas públicas e privadas do país.

Contudo, a luta pela implantação foi longa: em 1997 foi aprovado no Congresso Nacional o projeto de Lei N° 3.178/97 de autoria do Padre Roque Zimmerman, do P.T. do Paraná, o qual tornava obrigatória a disciplina Filosofia no ensino médio. Porém, no dia 08 de outubro de 2001, o então Presidente da Republica Sr. Fernando Henrique Cardoso resolveu vetar tal projeto com os seguintes argumentos:

1° - não haveria formação suficiente de profissionais em Filosofia para atender a demanda caso fosse sancionado o projeto;

2° - a aprovação de tal projeto de lei traria gastos para os estados e para o Distrito Federal.

Quanto ao primeiro item argumentado pelo Sr. Fernando Henrique Cardoso o que sabemos é que nenhum dado foi apresentado que constatasse esta falta de ofertas em relação aos profissionais de Filosofia.

Limitando-nos ao estado do Piauí, a título de amostragem, tomando como referência um texto do Prof. Dr. Gerson Araújo do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Piauí intitulado “Filosofia no Ensino Médio: algumas reflexões entre os anos de 1995 e 2001, nós vimos que foram formados 135 licenciados em Filosofia e que o curso de Filosofia da UFPI está acima da média em relação às formaturas dos cursos de licenciatura como, por exemplo, da área de ciências da natureza. Portanto, se só no estado do Piauí a oferta é condizente com a demanda, imagine no restante do Brasil.

Logo, partindo da amostragem citada anteriormente, vimos que o argumento do então Presidente da República Sr. Fernando Henrique Cardoso é falacioso.

Ao nível do Piauí, em relação ao ensino de Filosofia, existem dois casos completamente diferentes:

1°- no âmbito municipal foi aprovado, por unanimidade, pela Câmara dos Vereadores o projeto de lei do vereador Anselmo Dias estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de Filosofia no nível fundamental. O então prefeito da época Sr. Firmino Filho vetou o projeto argumentando que o município teria muitos gastos com tal implantação;

2°- um projeto de lei foi aprovado pela câmara dos deputados em 03 de dezembro de 2001, de autoria da deputada Francisca Trindade, transformado em lei N° 5.255 em 15 de julho de 2002 pelo então governador do Estado do Piauí Sr. Hugo Napoleão garante, desta forma, a obrigatoriedade do ensino de Filosofia e Sociologia em todos os estabelecimentos da rede estadual de ensino médio. No entanto, não basta, apenas, legitimar os conteúdos filosóficos ao nível de currículo, o interessante seria instrumentalizar o currículo como ele deve ser; como vida, porquanto não se tem conhecimento de alguma tentativa ao nível estadual nem federal para se tentar solucionar, através de metodologias filosóficas, questões gritantes como, por exemplo, as gangues de bairro.

Conclusão

Neste trabalho, tentamos elaborar a relação entre a questão sobre a necessidade de se repensar o homem e a ética, a filosofia de Levinas e a atual situação que o ensino filosófico se encontra ao nível do estado do Piauí buscando soluções práticas para o problema da violência em Teresina/PI. Aqui é interessante apontar que a capital piauiense foi citada ao nível de amostragem, pois o problema pertinente à violência entre os jovens é algo universal e que, portanto, necessita de medidas que ajudem a solucioná-lo.

Nós constatamos que uma nova forma de construir uma sociedade mais humana é exatamente definindo que tipo de homem e de ética nós queremos. Diante disto, vimos que só uma filosofia engajada neste propósito pode melhorar o bom rumo da sociedade.

Neste sentido, nos faz crível que a teoria de Levinas seria um “porto” fundamental, uma estrutura fundante para a perspectiva acima citada, porque dentro deste prisma, o homem não seria somente um ser que conhece, mas um eu que vem depois do outro, alguém que se constitui como resposta ao outro. A relação com o outro está além as relações de amizade, de amor, de entendimento e de eros. Ela apresenta-se como exigência de toda a humanidade.

Porém, a relação com o Outro pode ser vista de outra forma, àquela do sujeito cognoscente. No entanto, o sujeito, apenas, cognoscente se esquece dos outros. Neste sentindo, a alteridade do objeto é negada, a alteridade do sujeito é empobrecida e o sujeito hegemônico desconsidera o outro.

Para Levinas, este tipo de relação acima pode incorrer em extrema violência com àquela do nazismo. Para a filosofia levinasiana, conhecimento implica em linguagem, presença do outro, discurso. Desta maneira, o conhecimento começa com alguém em um mundo real e não abstrato. Ele não tem início com um sujeito distante do objeto. Dentro desta perspectiva, a linguagem tem um papel fundamental. Ela dá sentido aos objetos. Ela constrói uma objetividade na medida em que comunica, isto é, como consenso intersubjetivo. Desta forma, ela proporciona a saída do anonimato e ultrapassa as relações impessoais que o significado racional do termo conhecimento condicionou.

Neste sentido, o instrumento de maior relevância, para tanto, seria a educação. Ela tem que priorizar uma exigência ética em que leve em consideração a alteridade no sentido de educar para a sensibilidade, investindo na capacidade humana de ser solidário ao outro em todos os aspectos, começando com uma tentativa de elevação da auto-estima através de uma ênfase na consciência de cidadania.

Dentro do contexto acima citado, Levinas abre um novo caminho: àquele que é libertado dos liames da ontologia com o objetivo de libertar o homem e de constituir a ética como filosofia primeira, estabelecendo o outro como prioridade ética e fundamento filosófico.

Logo, o ensino da filosofia nas escolas seria algo que teria como princípio a ética da alteridade e do respeito pelo diferente. Coisa que possibilitaria o acolhimento da solidariedade e, assim, uma melhor forma de se conviver em sociedade.

Então, por que as pessoas que detém o poder têm uma resistência enorme à implantação e ao rigor de determinada disciplina nos currículos formais? Por que o ensino de filosofia parece amedrontar? Por que a filosofia, embora em um mundo atual caótico, sofre com abordagens pejorativas?

Estas e outras questões poderiam ser colocadas para um repensar de uma nova sociedade, um novo homem e uma nova ética. Neste trabalho, fica feito, então, o convite.

·- ·-· -······-·
Elnora Gondim y Osvaldino Marra

Bibliografia

ARAUJO NETO, G. A. Filosofia no Ensino Médio. Informe Econômico, Teresina-Pi, 2003.

ROLANDO, Rossana. Emmanuel Levinas: para uma sociedade sem tiranias. Educ. Soc. Vol.22, n.76

LEVINAS, Emmanuel. Totalidade e Infinito. Lisboa: Edições 70, 1980

__________________. La profinité. Archives de Philosophie. N.34, 1971

_________________.En découvrant l’existence avec Husserl et Heidegger, Paris: Vrin, 1967.

__________________. Totalidad e Infinito. Solamanca: Ed. Sigueme, 1977

__________________. Totalité et Infinit: essai sur l'exteriorité. 4 éme édition, Boston: Kluwer Academic Publishers.

__________________. La philosophie et l'idée de 'infini. Revue de Métaphysique et Morale, 56

CHALIER, Catherine. Levinas: a utopia do humano. Lisboa: Instituto Piaget, 1993

PIVATTO, Pergentino. Não será necessário repensar o homem e a ética: os grandes desafios. Porto Alegre: Edipucrs, 2006

POIRIÉ, Emmanuel Levinas – Qui etes-vous. Lyon: La Manufacture, 1987.


1 Lévinas nasceu em Kaunas, Lituânia, em 30 de novembro de 1906 e morreu em Paris, no dia 25 de dezembro de 1995. Sofreu considerável influência de Franz Rosenweig, Edmund Husserl, e de Martin Heidegger. Foi o primeiro a divulgar as idéias de Husserl, de quem traduziu para o francês algumas obras, e de Heidegger, em França. Crítico da perspectiva englobante e totalizadora de uma determinada perspectiva filosófica que reduz a alteridade à unidade ontológica, sobretudo o Idealismo Alemão do século XIX, Lévinas desenvolve uma intricada teoria – se se pode chamar assim sua obra – em que a ética precede a ontologia, não o contrário.

2 Dados obtidos através dos meios de comunicação local (Teresina/PI).

3 LEVINAS, En découvrant l’existence avec Husserl et Heidegger. Paris: Vrin, 1967, p.225

4 Idem, p. 14

5 POIRIÉ, Emmanuel Levinas – Qui etes-vous?. Lyon: La Manufacture 1987, p.21.

6 LEVINAS. Totalidad e Infinito.< Salamanca: Ed. Sigueme, 1977, p.135

7 PIVATTO. Não será necessário repensar o homem e a ética?. Porto Alegre: Edipucrs, 2006, p.108

8 Idem, p.109

9 Idem, p.112

10 Ibidem, p.112

11 Ibidem, p.115

12 Ibidem, p.115



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